segunda-feira, 11 de junho de 2012

17º Encontro de Skoobers - Maio de 2012

Café Santo de Casa, 7º Andar, Casa de Cultura Mário Quintana, Rua dos Andradas, Porto Alegre. Dia 26 de Maio de 2012, tarde.

O encontro de Maio foi próspero, não só pela quantidade de participantes, mas também pela presença de amigos que não apareciam há muito tempo. Foi bom revê-los. Espero que tenham gostado. Espero mesmo!, porque houve quem precisasse bolar toda uma estratégia para burlar o chefe e faltar ao trabalho só para passar a tarde de bobeira com a gente. Bom, mas falar sobre literatura, política e cultura... não sei... Isso não é muito frequente na nossa vida, é? Vale a pena ir a um encontro de vez em quando...

Diego S., Roberto, Paulo, Rômulo, João H., Simone, Alan, Jéssica, Pablo, Albert e Carol
(o Alonso também esteve lá)

O assunto em pauta? Que pauta, nem pauta! Quem quiser cronogramas, panfletos, itinerários, que procure um sarau literário ou uma agência de viagens. Ali, no grupo de skoobers, conversamos sobre o que nos vem à cabeça (o que quer dizer que, vez ou outra, não tem nada pra conversar).

Mas é bem verdade que Fernando Pessoa e sua obra ocuparam bastante espaço na reunião daquele dia. O poeta português, dono dos tantos heterônimos que dão expressão a suas diversas visões da vida, trouxe a tona com suas "palavras de pórtico" a questão do ímpeto criativo como uma necessidade imprescindível do ser humano. Eis o poema, em específico, que lemos e discutimos:

"[...] 'Navegar é preciso, viver não é preciso'.
Quero para mim o espírito desta frase, transformada
a forma para casar com o que eu sou: Viver não é necessário;
o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero
torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda humanidade; ainda que para isso
tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na
essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de
engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa raça.”


Aqui o autor soa um tanto servil em relação à sua arte: criar para que, por que e, acima de tudo, para quem? Para humanidade...? Para os outros...? Por fama, por prestígio?
Para muitos, não é verdade que escrevemos, ou pintamos, ou construímos, ou criamos arte seja lá de que forma for pela necessidade de deixar algo para a posteridade e para o público; fazemos isto por uma necessidade primordialmente pessoal e num ímpeto profundamente íntimo.
Para tantos outros, o ímpeto criativo está mais relacionado com o sentido de "missão", ou seja, quando estamos debruçados, por exemplo, sobre o papel, escrevendo, estamos dando algo de nós para os outros, e daí nasce o prazer de criar.
Provavelmente a resposta está entre uma e outra: criar é uma necessidade humana e, como tal, é essencialmente egoísta. Mas, para o artista/criador, o ato só ganha plenitude quando o fazemos por um objetivo - "torná-la de toda a humanidade", exemplificando.
O risco está quando fazemos as coisas "por encomenda". Artistas renascentistas não eram menos artistas porque vendiam seus quadros, mas, mesmo assim, fazer algo por obrigação pode resultar em algo tão falso quanto o ato de vestir-se para sair.


Houve quem acreditasse que nesse ato de criar o artista se perde, se desconecta de si, e daí o que nasce é algo totalmente alheio a ele - algo que vem de Deus, talvez? Mas também houve quem acreditasse justamente o contrário: ali, o homem é mais ele mesmo do que eu qualquer outro momento.


O engraçado da arte é que ela é, como escreveu Oscar Wilde, algo "completamente inútil". Mas não é bem que não tenha utilidade... A força dessa expressão está mais relacionada com o esforço de sobrevivência, na verdade, querendo significar que, mesmo quando ainda éramos homens das cavernas, desenhávamos e contávamos histórias somente quando não estávamos caçando ou procriando. Acho que essa observação histórico-científica da arte veio de Carl Sagan, sempre tão humano.


Mas não falamos só sobre arte. Falamos sobre coisas práticas, também, como programas governamentais para melhoria da população. Em específico, alguns estavam discutindo sobre a importância do "Bolsa Família". É algo tão controverso quanto a questão das cotas raciais nas universidades - muitos contra, tantos outros a favor.

Depois do encontro, nos despedimos.

Pouco antes de ir embora, quatro membros do grupo, ainda imbuídos espiritualmente da "filosofia" de Álvaro de Campos, formaram uma mesa inusitada: no Burger King, os quatro ateus, casualmente, ilustraram muito bem um dos trechos de "Tabacaria":


"Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria". Ou a lancheria.





Sempre tem espaço para uma nerdice nos encontros.

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